Joe's door: agosto 2010

Imagine que existe na sua cidade uma loja que vende roupas feitas artesanalmente. As peças são idealizadas, cortadas, costuradas, bordadas, tudo individualmente. Não há uma roupa igual à outra, todas são únicas. Essa exclusividade de cada peça torna, logicamente, os preços dessa loja mais altos que os de mercado.
Um dia você passa por lá e vê uma blusa. Mesmo sem experimentá-la, você já sabe quão perfeita ela deve ficar em seu corpo. Você se imagina saindo por ai com a sua blusinha, todas as pessoas imaginando que ela deve ter sido feita especialmente pra você, com suas medidas e tudo. Mas seria necessário desembolsar um dinheiro alto pra tê-la, talvez não valesse tanto à pena. Talvez, vestindo a blusa, você percebesse que ela nem fica tão bem em você. Então você decide nem mesmo experimentá-la, deixa que na sua mente se eternize a idealização da blusinha perfeita.
Você pode até tentar preencher o vazio que a “não-compra” da sua blusinha deixou buscando nas lojas de departamento algo correspondente, mas sempre encontrando distorções do seu desejo produzidas em série. Você compraria muitas blusas que chegam perto do que você realmente imagina, mas nenhuma delas seria ideal. Talvez juntando os detalhes de cada uma das suas aquisições você chegasse próximo ao que realmente adoraria vestir.
Então, sempre que possível você passa pela loja, com o dinheiro no bolso, e relembra todos os motivos que te fazem desejar ardentemente ter aquela blusa em seu armário. Depois tenta se convencer de que ela não importa tanto assim. Quase se decide a experimentá-la, mas sempre vai embora ao último instante sem nem ter tocado no tecido amado.
Em uma dessas regulares visitas ao objeto de sua adoração, você percebe que há algo errado. A blusa não está onde costumava ficar. Você passa os olhos pela vitrine e pelos cabides, mas não a encontra. Pela primeira vez você decide entrar na loja e perguntar pela sua blusinha. Mas ela não está lá. Alguém levou a blusa e já não é possível que você possa ser sua dona.